terça-feira, 27 de abril de 2010

O paradigma da escassez


Continuando a partir do post anterior, encaminho nossa discussão para uma perspectiva roubada da economia.

Antes, preciso alertar que a maioria das idéias desse texto estão contaminadas pelo que concluí assistindo "Zeitgeist: The Movie" e principalmente "Zeitgeist: Addendum". Para quem não conhece, esses dois filmes são documentários distribuídos livremente na internet aqui e tratam, dentre outras coisas, sobre religião, poder, origem do dinheiro e sustentabilidade. O Addendum é mais voltado para a realidade empresarial. Não concordo com todas as idéias do filme e tão pouco acho elas exeqüíveis no curto prazo; mas a reflexão vale a pena.

A última parte do "Addendum" começa no mesmo dilema do nosso post anterior: a impossibilidade de coexistência harmônica entre a busca pela maximização do resultado econômico e a conservação ambiental. Eu achava que o filme iria cair na mesmice de criticar as características do capitalismo, porém para minha surpresa, a crítica foi direcionada a qualquer um dos "ismos": capitalismo, socialismo, comunismo, feudalismo...

O ponto é que todos os sistemas "ismo" estão baseados na escassez, só alterando quem é dono dela. Ora, quem estudou o mínimo de economia sabe que "a escassez cria valor", ou seja, quanto mais escasso for um bem, mais valor econômico ele terá. É isso que faz ser racional a modificação genéticas das sementes utilizadas na agricultura para que produzam somente uma colheita. Realmente não é preciso ter uma mente brutal para pensar nisso, embora seja um salto contra a própria evolução: as sementes sempre geraram plantas, cujas sementes sempre geraram outras plantas; porém, o ser humano focado na escassez, modifica as sementes para que elas gerem plantas estéreis. A cada colheita o agricultor precisa comprar novas sementes. Faz sentido.

Por isso, o foco das atividades sociais humanas na Terra visando a sobrevivência deveria mudar da gestão da escassez dos recursos para a gestão racional do ambiente para gerar abundância. O ponto é que temos a tecnologia disponível para fazer as coisas de uma forma muito mais eficiente. Prefiro acreditar que o ser humano é mais maquiavélico do que burro: acertamos uma bola de golfe da Terra até Marte e não vamos conseguir uma forma eficiente de produzir energia sem impacto ambiental? Fala sério!

Se não houvesse o interesse econômico em lucrar com as tecnologias intermediárias estaríamos bem mais na frente em termos de desenvolvimento tecnológico! Teríamos energia barata, limpa e renovável... e, sonhando, de graça... imagine o impacto que isso teria na sociedade! O filme citado traz um pouco disso, na forma de uma epifania: energia gratuita para gastar em pesquisas e criação de novas tecnologias, máquinas alimentadas por essa energia capazes de construir nossas casas, de plantar nossa comida, etc... geração de abundância dos bens e não de sua escassez.

Ficou curioso? Visite The Venus Project e assista os filmes. Nem que seja para criticar...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sustentabilidade x Finanças


Ser um profissional de finanças tem suas vantagens e desvantagens. Se por um lado a primeira imagem é de profissionais com bom raciocínio matemático aplicado, capazes de lidar com um grande número de variáveis e de gerir recursos financeiros, por outro permeia-se a área de finanças de um certo ar de perversidade. Muitos consideram as finanças como o "eixo do mal" da administração, pois "busca o lucro acima de tudo". Com frequência os administradores financeiros são vistos como responsáveis pela degradação social por estar em "conluio com os grandes conglomerados financeiros".

Ora, o próprio objetivo das organizações é maximizar o valor investido pelos acionistas e qualquer decisão tomada na gestão da empresa irá ao encontro dessa máxima, seja na área de finanças, marketing, recursos humanos ou produção. Se o objetivo da empresa fosse maximizar a satisfação do cliente, o marketing proporia a doação dos produtos e não a sua venda; se o objetivo da empresa fosse garantir o bem-estar social da comunidade na qual se insere, a área de recursos humanos proporia níveis salariais altíssimos... e assim por diante.

Meu ponto aqui é que a perversidade atribuída à função financeira não é inerente às suas atividades, mas sim, gerada pelo próprio objetivo das empresas, a "maximização do valor dos acionistas", o que parece ir de encontro às últimas discussões sobre responsabilidade social e ambiental. Afinal, porque uma empresa deveria ser social e ambientalmente responsável se isso não maximiza o valor do seu acionista? Isso simplesmente não está no seu "programa", no seu "script".

A resposta é clara: a sustentabilidade é a única variável que permite o atingimento dos objetivos financeiros no longo prazo. Se todas as empresas atuarem sem preocupação com o impacto ambiental das suas atividades, invariavelmente todas sucumbirão, por não mais ser possível a utilização dos recursos naturais. O ar custará demais, a água será extremamente cara, a terra será um recurso oneroso, a mão de obra saudável será tão escassa que a organização pela "maximização do valor do acionista" será impossível.

Administrar sem considerar a responsabilidade social e ambiental é um "tiro no pé" tão grande que vai contra a maximização do valor do acionista no longo prazo. Por isso, é necessário mudar o paradigma de gestão para uma "maximização do valor do acionista no longo prazo", porque isso traz implícito o impacto socio-ambiental mínimo. 

Prometo continuar a evolução dessa idéia em um próximo post...