quinta-feira, 13 de maio de 2010

Concerning Teaching



Ao passar para o outro lado do processo de aprendizado deparei-me com alguns dilemas por mim não-esperados. Eles não surgiram de uma forma estruturada, mas tentei agrupá-los nas categorias a seguir:

Ensinar ou vender diploma?

Todos sabem que as faculdades particulares são um negócio rentável em que o aluno é visto com um "cliente" exigente. No entanto, há uma grande diferença entre vender um diploma e vender o ensino. O processo de ensino exige dos alunos tempo para estudos e para trabalhos extra-classe, pensamento crítico e dedicação às atividades. Na medida do possível, as faculdades tendem a facilitar a "penúria" dos alunos: em algumas instituições o professor pode incentivado a não reprovar o aluno, pois um aluno reprovado é um cliente insatisfeito e um potencial novo cliente para a concorrência. No longo prazo cria-se a cultura de que o aluno é imune a reprovações e que sempre haverá um subterfúgio, um jeitinho para fazê-lo ir adiante. Há alunos que não estão efetivamente interessados em aprender conhecimentos e discutir pontos de vista, bastando-lhes o canudo no final do curso. Ora, se há demanda para a compra de diplomas há oferta de faculdades despreocupadas com o real aprendizado. Chamo de "venda de diploma" os curso estruturados com a ótica "menor esforço" e "melhor preço". Um professor, ao ingressar no mercado de trabalho, deve selecionar as oportunidades de trabalho em instituições que melhor se relacionam com seu ponto de vista.

Controlar a frequência nas aulas?

Podem discordar a vontade, mas sou a favor da verificação de frequência em cada encontro. Muitos alunos dizem: "Professor, eu trabalho um monte, dou conta do conteúdo, basta me dar a presença que eu passo, não vou lhe incomodar...". Também há professores dizendo: "Na minha cadeira, ninguém roda por falta. Me interessa se o aluno passa na prova". Meu argumento é que o aluno que simplesmente passa na prova sem comparecer nas aulas não adquiriu a mesma bagagem de conhecimentos que os demais, pois não participou das discussões e das outras atividades realizadas nas aulas; não seria ético para com os demais alunos aprová-lo junto com a turma. Além disso, um aluno que nunca cursou a disciplina é incapaz de discernir se precisa estar em sala de aula ou não para ser aprovado nas avaliações; muitos sub-avaliam a interrelação entre os conteúdos do semestre, supondo que a ausência em uma aula não comprometerá a compreensão na próxima, o que pode ter um resultado trágico ao final do semestre.

Ensinar a pensar?

Esse dilema esta no epicentro de cada aula. O caminho mais fácil é o famoso "despejar a matéria" em cima dos alunos: apresentar os conceitos explicando-os e realizando exercícios de fixação. Isso é o feijão-com-arroz: qualquer um faz... O diferencial está em fomentar no aluno a visão crítica sobre realidade que o cerca e sobre os conhecimentos que lhes são apresentados nos livros e artigos acadêmicos. Poucos professores adotam este caminho, pois ele é árduo: necessita da exposição das fraquezas e relatividades dos conteúdos ensinados. O que procuro fazer é adotar diversos autores simultaneamente: ao ensinar algo, certifico-me de que todos compreenderam e logo após apresento um posicionamento que diz algo diferente ou mesmo o contrário do que a pouco havia explicado, demonstrando os argumentos que levaram ao posicionamento diverso. Deixo para o aluno escolher qual é o conceito, o livro, o ponto de vista que mais lhe agrada, desde que tenha argumentos para sustentá-lo.

Utilizar didática atualizada?

Custo aceitar que é normal os alunos cochilarem durante as aulas (principalmente as noturnas)! Há tanta coisa simples que pode ser feita para "movimentar" a turma para além do quadro-giz-slide: ligar a luz para realizar exercícios de fixação, movimentar-se pela sala de aula (nunca dar aula sentado!), modificar o volume da voz (intercalar volume alto e volume baixo), abusar do uso de exemplos... Como dica pessoal, deixo o uso de um "quebra-gelo" em cada aula: sempre trago uma reportagem, uma oportunidade de negócios, um fato hilariante, uma história para que os alunos "limpem o buffer" ao começar a aula, utilizando todas suas habilidades cognitivas para a compreensão dos conteúdos e não para a solução de qualquer outro problema que seja mentalmente carregado para dentro da sala de aula. Sem contar que temos disponível uma infinidade de ferramentas pouco utilizadas como instrumentos de ensino: Youtube, Orkut, MSN, Skype, Ipad, Ipod, Iphone... Novamente, o mais fácil é simplesmente utilizar os mesmos slides durante diversos semestres. No entanto, o mais efetivo é veicular os conteúdos através de mídias atualizadas, comentar reportagens atualizadas sobre o tema, utilizar os vídeos Youtube relacionados ao assunto, incentivar a participação em fóruns virtuais de discussão. Se o professor não cativar o aluno, a aprendizagem tenderá a ser mais difícil.

Se você for ensinar algo, prepare-se com antecedência e reflita sobre os dilemas apresentados. A importância do ensino é evidente. Keep caring the world on your shoulder...